O Labirinto de Fogo por Miguel Brambilla

Jornalista, escritor, profissional de marketing, músico.miguel@sabecaxias.com.br

O LABIRINTO DE FOGO

Acabo de assistir pelo Youtube, as cinco horas da manhã, uma entrevista do Jô Soares com Ariano Suassuna. O entrevistado com 80 anos. No próximo dia 07, farei 55. Não sei nada da vida. Quanto mais tempo passo numa mágica, fantástica e perecível armadura de carne, mais tento me libertar dela, tentando conservá-la ao máximo de utilidade e querendo ser feliz. A vida é muito estranha e até mesmo tola para quem não vê saídas além das diversões carnavalescas, salonísticas, ritualescas de todos os tempos da sociedade humana, mesmo no tempo das cavernas, quando se reuniam pessoas ao redor do fogo para sobreviver um pouco mais das ameaças hostis de sua época, bem diferentes das de hoje, mas nada que garanta que hoje, passar em uma favela controlada por milícias seja assim tão diferente do que enfrentar feras selvagens na hora de ir aos pés numa floresta.  Vamos contando as horas, contando os dias, salvando mais e mais informações na memória, que em alguns bons casos, depois de decantar, liquidificar novamente, sacudir e balançar, viram boas reflexões. Nem todas úteis ou sábias. Talvez apenas boas. E nesse exercício de ser o que somos todos os dias, pensando em expandir a consciência, por algum tipo de fé e de esperança de que haja alguma saída para melhores horizontes de existência, que não sejam tão fugazes, condenáveis a nostalgia futura e de rara compreensão profunda, vamos somando bytes, terabytes e outras formas de acumulação que talvez tenham alguma utilidade um dia. Onde estão os propósitos grandiosos das grandes culturas que se sonha em utopia, que se destacam glamorosamente nos filmes “holiwoodianos”, e que já não movem lideranças nem sensibilizam as mentes amortecidas, prisioneiras na matrix das redes sociais? E depois, quando o tempo passar, e aquele cão não estiver mais ali, por que partiu? Aquela árvore bonita da infância, morreu pela indiferença de quem não planta, aquela casa perdeu o viço das cores das paredes, os filhos cresceram e a fé não satisfaz? Viver, cada vez mais e ser feliz, é como estar em um labirinto de fogo. Todas as saídas serão quentes e perigosas, mas é preciso andar ou esperar que todas se fechem, agonizar em chamas e solidão diante da preguiça em encontrar uma saída, e se conformar com o calor vigoroso de um destino fatal, mesmo que sempre seja possível tentar ao menos algum tipo de saída. Os velhos são sábios pelo tempo, não santos nem intelectuais. Sábios por que se adaptaram, viveram, suportaram e superaram o fogo de todas as saídas difíceis no labirinto da vida, que não permite há ninguém esperar sentado o movimento do Minotauro faminto pelas portas incendiadas. Viver mais, não é deixar mais pegadas na areia, é entender que a areia é movediça, as ondas do mar constantes e os pés de quem para incham, matando pela cabeça sem circulação a vontade de viver. Ninguém sabe na verdade se vive, se não tiver certeza de que acreditar não é apenas entender é atravessar os limites da suposição intelecutal e andar com o pensamento fixo na confiança e no destino sagrado de uma certeza mágica e de um amor absoluto, que criou a humanidade e a colocou em marcha para desfrutar o Infinito. E isso se chamará paz. // por Miguel Brambilla 07.03.2024 às 05:23

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