Me toquei que estou num mundo de provas e expiações. E agora? Por MB

Acabo de chegar da casa espírita onde trabalho, Harmonia e Luz. Lá estou com todas as mazelas e bençãos não necessariamente nesta mesma ordem, nos meus quase 54 anos de corpo físico, agora reclassificados como jovem pela Organização Mundial da Saúde. Legal. Eu que não tenho graves vícios mais, além de açúcar e várias mesquinharias, então acabo retirando o que disse, talvez viva até os 100, para me tornar então um idoso longevo como diz a mesma OMS. Que bom. “Viver é bom nas curvas da estrada, solidão que nada”, canta o Cazuza que falava porém da sua promiscuidade, que ele onde estiver me desculpe, por que santo não sou, e não de caridade. “Cada aeroporto é um nome em um papel, um estranho que me quer”, diz o poeta. Corajoso como foi, desencarnou da doença dos anos 80, ainda hoje sem cura, o HIV. Madre Teresa de Calcutá disse sempre que não há solidão para quem ama ao próximo, a caridade. Fico pensando então. Até aonde somos realmente estranhos, depois de tantas e tantas reencarnações e em diversos planetas habitados, não apenas nesse. “Há muitas moradas na casa de Meu Pai que está nos Céus”, disse Jesus. O mestre disse em outro momento que nossos castelos fossem construídos em bases sólidas e não na areia da praia. Mas que triste e arrastado coração tenho eu, que cheio de malícia me entrego com pouca volúpia as ansiedades criadas pelas insatisfações da paixão em pleno desequilíbrio da juventude, lembrando que segundo a OMS, jovem eu ainda sou, e não encontro a bússola, o gps da saída para uma dimensão melhor que essa.
Entre um cômodo e outro de casa ou do escritório, com as mídias ligadas, ouço que na Turquia, e na região da Síria em guerra religiosa há um tempão, mais de 12 mil pessoas, agora, dia 08 de fevereiro, as 16:30, já desencarnaram num terremoto. O primeiro de apenas noventa segundos. O tempo suficiente para aceitar o impulso de uma ligação para alguém que magoamos. Um pai, um filho, um irmão, um cônjuge. O tempo suficiente para resistir a uma tentação. Sobre os escombros, morte e vida se multiplicam a distância de onde estou agora, na segurança de uma sala climatizada, ao som de música clássica, Beethoven; tentando ouvir a voz da minha consciência. As chuvas no Rio de Janeiro e São Paulo, a seca no Rio Grande do Sul, pessoas que foram retiradas de casa pelos donos da barragem em Minas Gerais. No intervalo, a oferta comercial me lembra as maravilhas da tecnologia e ambiciono a mais moderna SUV da hora, quase uma nave espacial com rodas, logo voarão. Ainda estou no mundo de provas e expiações.
Sou reencarnacionista, mesmo que peque por que santo não sou. Acredito em Deus, mesmo que Dele me distancie, por que Mestre não sou. Lindo é o conselho do Mestre Jesus. “Vá e não peques mais para que algo pior não te aconteça”. Perguntava ele também as apóstolos, iniciados nas Leis da Reencarnação com maior profundidade do que o povo se eles também não entendiam, ou entendiam como o povo. Pedro, o apóstolo, “Pai da Igreja”, achava que após a tempestade moral da humanidade daquele momento, daquele lugar, na presença de Jesus, voltaria para casa e para a vida de pescador. Não voltou, não veria mais a mesma vida rotineira de outros tempos e nem a infortunada sogra.
Então, aproveitando a nesga de luz que está em meu coração agora, me esforço para compreender mais um pouco. Andar mais um milímetro por amor. Conter um pouquinho mais o orgulho em mim. Resistir um pouquinho mais a tempestade íntima da cólera, da ira, da revolta, do egoísmo, acreditar um milímetro mais no Amor de Deus. Como um programa de recuperação de alcoólicos. “Só por hoje vou acreditar em Deus, não importa o que aconteça em minha vida”. E evitar a próxima mentalização decepcionada, o próximo impulso de incredulidade, a irritação em descontrole.
Não sei me julgar ou me classificar, por que estou aqui neste mundo de provas e expiações. Perdido em um lindo planeta, com alta tecnologia e graves distorções sociais, ainda tento caminhar em direção a felicidade. Algum reconhecimento na arte, respeito na sociedade, prestígio, a gratidão de filho, o respeito dos meus próprios filhos para comigo. Ainda tento ser um homem comum e resolver os enigmas do xadrez social que se movem não como águas calmas no planeta energicamente interligado, mas como tempestade apocalíptica de transformação.
Se sei que Deus não errou. Se sei que aqui devo estar. Se sei que continuarei pensando e sentindo e precisando de Deus, mesmo depois que meu corpo morre eu peço agora em oração. Senhor, já me deste a saída. Me ajuda saber amar. MB

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