Artigo / Os impactos do conflito entre Rússia e Ucrânia na economia regional

Paulo Spanholi – Presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de

Paulo Spanholi, Presidente do Simecs – Crédito: Thiago Silva/Divulgação

Passados pouco mais de 40 dias desde o início da invasão da Rússia à Ucrânia, em 24 de fevereiro, já são sentidos reflexos dessa operação militar para a economia brasileira e da Serra Gaúcha. Em razão da falta de perspectiva de uma resolução rápida do conflito – que por vezes se apresenta possível, e logo em seguida se mostra distante –, o cenário é de alguns impactos negativos já imediatos e de incertezas em relação ao médio prazo.

As exportações da região para a Rússia renderam 6 milhões de dólares, e para a Ucrânia 1 milhão de dólares, em 2020, conforme dados do sistema Fiergs. A contabilização considera a base de associados do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul e Região (Simecs), com mais de 3,3 mil empresas de 17 municípios, responsáveis por 52 mil postos de trabalho e um faturamento anual de R$ 23 bilhões.

Retirada do Swift – O primeiro efeito prático da guerra para as relações comerciais adveio de uma das sanções impostas à Rússia, de retirada do Swift, serviço de telecomunicação entre bancos no mundo, impedindo as transferências financeiras internacionais com o país. Essa situação tem forçado empresas com entregas para clientes russos a buscar alternativas, entre elas as instituições bancárias chinesas. Ao mesmo tempo, existem problemas para a entrega das mercadorias devido à interrupção do transporte marítimo na região conflagrada.

Reflexos indiretos – A Rússia é um grande fornecedor, para a Europa, de commodities como trigo, petróleo e gás natural, o que impacta a formação internacional de preços. Por conta disso, temos impactos no Brasil, como a redução do fornecimento de fertilizantes, insumo importante para o agronegócio (que vem buscando suprimentos alternativos). Essa é uma situação que exige atenção, uma vez que o segmento metalmecânico da nossa região é um importante fabricante para a cadeia do agronegócio nacional.

Além da pressão por riscos de abastecimento e atrasos em cadeias produtivas nos produtos básicos, há preocupação, nos mercados de capitais, de a guerra gerar uma desaceleração econômica do Ocidente – especialmente com a necessidade de substituição do abastecimento de gás natural à Europa, altamente dependente dessa fonte energética. Com a interrupção do fornecimento pela Rússia, os EUA passaram a efetuar o suprimento, porém, com altos custos logísticos.

Risco de agravamento – Ao mesmo tempo que parece recuar na pretensão de tomar o país, o governo russo demonstra interesse na anexação de regiões do Leste da Ucrânia, o que cria um empecilho para um Acordo de Paz e gera apreensão quanto a uma nova investida bélica russo mesmo após um cessar-fogo. Entretanto, a extensão do conflito tem repercussões desastrosas muito além da economia.

De tal modo, nossa expectativa primordial é de uma resolução diplomática imediata para a crise humanitária. Em seguida, será necessária colaboração internacional para se contornar o quadro inflacionário pós-pandemia agravado pela guerra, preparando caminho para uma recuperação econômica global que se vislumbra como possível apenas no médio prazo.

Divulgação Sabe Caxias:

 

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