A pandemia da hipocrisia a “Grande Babilônia” e “Suburra – Sangue em Roma” – por Miguel Brambilla

“Suburra – sangue em Roma” série da Netflix

Ainda estamos em pandemia. Esse texto está sendo escrito, as 13:18 do dia 25 de janeiro de 2022. Lembro quando tudo se fechou no dia 17 de março de 2020 no Brasil, como se fosse um apocalipse, uma condução coercitiva aos nossos lares. E então começaram os debates. É mortal? Não é? É uma gripezinha? Não? Fica em casa? Não fica? E nesse período tivemos tempo de pensar em muitas coisas.  Sobre nossas vidas, sobre as hipocrisias que nos cercam, sobre a fragilidade de nossas relações e até mesmo de nossa saúde.

É ciência? Não é ciência? É redonda, pentagonal ou quadrada? Vira jacaré ou anta? E mundo afora não foi diferente. Mudaram as línguas, mas a perplexidade sobre o descontrole do coronavírus pareceu ser a mesma. Festinhas na casa oficial inglesa, do descabeladão negacionista, que depois de quase morrer, resolveu aderir ao problema e respeitar os protocolos da Organização Mundial da Saúde (OMS), que diga-se sem ingenuidade, como tudo que é terreno nesta época da história da humanidade, está impregnada de política, ambição e materialismo, mas no bojo não quer dizer que esteja errada absolutamente.

Pensa-se na economia, ok. A China cresce 10% quase em pandemia, outros países afundam, mas as máquinas do capitalismo continuam há todo vapor. Acumulando rios de dinheiro em paraísos fiscais e nas mãos de milícias partidárias ou não, de esquerda ou direita. O que importa é o poder. E seguem as teorias da conspiração. O vírus foi criado em laboratório? Não foi? Cloroquina? Ivermectina? Ainda tem gente que acredita em papai noel e a humanidade segue dividida como a Babilônia. Agora somos “Babilônia a grande”.

A cosmopolita sociedade mundial não entende que não pode deixar os países considerados do terceiro mundo para trás. Pode-se aplicar 415 doses nos americanos, nos israelenses, nos chineses e até mesmo no Brasil. Se não for esse, outros problemas sanitários de sobrevivência planetária surgirão. Mas não importa para a grande maioria. O que parece importar é a supremacia do presente. Estar na liderança. No campeonato, nas redes sociais, na sociedade local, no poder. Morrer é do jogo, então é preciso ser feliz com o máximo de egoísmo possível, parece ser o pensamento popular da Grande Babilônia.

Mudaremos como humanidade? Estamos mais humanos ou mais ególatras neste período de escorbuto psicótico, ou de “desastre mental”. Difícil saber. A Grande Babilónia está de volta com seus vícios e hipócritas virtudes. Um belo retrato artístico das mentalidades humanas do passado e do presente, é a série ficcional “Suburra – Sangue em Roma” em cartaz na Netflix. Parece negativo, autoexplicativo e realista.

O que virá dessa catarse materialista? Quem sabe um novo ponto de equilíbrio, quem sabe o fim?  E depois do fim? O que virá? Ao que parece, somos suficientemente obtusos para nos reconstruirmos sempre da mesma forma, com as mesmas barreiras, mesmas traições, mesmas falsas esperanças. A série apresenta um Rap italiano sensacional. Vale conferir.

Saúde.

7 Vezes Capital

Norte, Sul, Oeste, Leste, Roma é
Tão grande que te leva à noite, te engole
Foda-se a mente
Um gigante que te embala nos gritos que ele não ouve
Ele te compra, te vende, te levanta, te espalha
Ele usa você se você precisar, ele te recompensa, ele te perde
Quem sai, quem desce, quem blefa, escadas
Frio como o deserto do Ártico
Dentro de seus cobertores, esta noite você não está aqui
Nude como em Roma e é assim que eu gostaria de você
Que do mar traça o céu como a água e o rio
O medo que você nunca teve
Mulheres gostam dela que me prende às cordas dela
Tese, para ir com velas acesas
Negros como o Sanpietrino, branco como mármore
Como gotas de orvalho que refletem meu olhar

Roma crua, Roma crua
Roma crua
Nu como a beleza, tão grande quanto Roma
Santo e dissoluto, Roma ama e não perdoa
Roma te devora como uma barracuda
Roma nua, nua, nua
Nu como a grande beleza como Roma
Santo e dissoluto, Roma ama e não perdoa
Roma te devora como uma barracuda
Roma nua, nua, nua
Levante, oeste, mistral, scirocco
Rosas, ventos, espinhos, um pedágio
Eu me bloqueio, pôr do sol, edifícios até o mar
Sete vícios de capital, parece se afogar
No preto e branco de uma memória que não me pertence
No meio de canções de sereias, tão frio quanto hienas
Onde a sede de vingança é sede personalizada
Roma às vezes abençoou a Cristo, às vezes Judas
Roma bárbara e cultura, DNA complexo
Roma é assim, te seduz da entrada
Triste como um tango, entre ouro e lama
Roma é um passo de duas rodas no asfalto
Roma é um rosto cansado, de Madonna com lágrimas
Guardião invejoso e intrusivo das almas
Prece curiosa, indolente e infiel
Roma mãos infames dentro da pia de água benta
Nu como a beleza, tão grande quanto Roma
Santo e dissoluto, Roma ama e não perdoa
Roma te devora como uma barracuda
Roma nua, nua, nua
Nu como a grande beleza como Roma
Santo e dissoluto, Roma ama e não perdoa
Roma te devora como uma barracuda

Roma nua, nua, nua
Roma crua, Roma crua
Roma crua
Roma crua, Roma crua
Roma crua

Nu como Roma, ótima como beleza
Uma mãe carinhosa, que te leva e cuida de você
Trabalhador cansado, grande pedaço, bandido
Você gostaria de ser esta noite e filho favorito
Mas você é como todo mundo, rostos cansados ​​na parada
Olhos para baixo, mãos nos bolsos, para refletir seu dia
O que quer que você tenha, você teve que suar
Privilégios zero, estilo mafia capital
Aqueles que você tem ao nosso redor, à vida, deram um preço
Foi uma taxa diária para consumir peça por peça
Então levante os olhos, veja Roma
E quem vive realmente a cidade, encontra o significado para tudo
E eu não deixarei mais ela, não deixarei mais ela
Não deixarei mais ela

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *