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Nacionalismo reverso, descendentes de italianos rejeitados, brasileiros desgostosos? por Miguel Brambilla

Sou brasileiro, descendente de italianos. Brambilla, Radaelli, Viganó, Panassol…Tudo está misturado no meu sangue. Mas, nasci no hospital Pompéia há 56 anos. Meus filhos são caxienses.

A polêmica do novo nacionalismo mundial, agora com a Itália rejeitando descendentes não deveria ser surpresa.

Talvez os descendentes não lembrem mais, mas os imigrantes italianos vieram da Itália, rejeitados pelo país, e atraídos por propaganda enganosa de que na América haveria oportunidade, prosperidade. Alguns conseguiram com o fruto de muito suor, trabalho, inteligência, prosperar no Brasil bem mais que na Itália. Muitos morreram nos navios, trabalharam em condições terríveis, análogas a escravidão e aliás, havia uma ligação com a abolição da escravatura.

As autoridades brasileiras, os barões do café e outros intuitos colonizadores da época imperial, com a república nascente, queriam o “branqueamento” do país após a abolição da escravatura e substituir a mão de obra dos escravos libertos, que acabaram por sua vez se marginalizando e até hoje continuam vitimizados por uma sociedade exclusivista.

O ser humano é contraditório. A questão da imigração é ainda pouco compreendida e está sendo romanceada, depois de 150 anos, quase como se depois de mais de um século de abolição da escravatura, se chamassem os senhores de escravos e os capitães de mato para confraternizar. Não se trata portanto de simples perdão, mas de reparação.

Os brasileiros descendentes de italianos foram humilhados duas vezes pelos nativos da “velha bota”. Seria por parte dos italianos a oportunidade de reparação histórica, semelhante aquela que o Brasil ainda deve aos descendentes dos escravos. Mas não foi. O orgulho e o nacionalismo italiano não querem de volta o que eles mesmo expulsaram, também aqui para a Serra Gaúcha, há 150 anos.

Enquanto muitos povos encontram no Brasil o “éden” de sobrevivência, por que seus países se fragmentam em guerras, ditaduras, fanatismos. Venezuelanos, angolanos, ucranianos até, libaneses, haitianos, se refugiam no Brasil, enquanto  os brasileiros descendentes de italianos, sentem orgulho da Toscana, de Roma, de Milão, e das obras de Michelangelo, visitando com nostalgia o velho Coliseu, estádio do terror cristão, com orgulho de turista e de pertencimento. Isso é como se no futuro, depois de algum tempo, se visitasse o Memorial de Auschwitz, com a mesma leviandade histórica e romanceada pela falta de compreensão da realidade dos fatos e aprofundamento histórico.

Os escritórios de advocacia, vendiam seus serviços de naturalização italiana, oferecendo caminhos para o passaporte europeu com outdoors espalhados pelas cidades. A mina de ouro vai fechar. A onda nacionalista no mundo deve se fortalecer ainda mais com os extremismos políticos. Mas não é só isso.

Um dia, se compreenderá a dupla vergonha de se ter a cidadania italiana negada neste momento. Mesmo que existam exceções, muitos jovens querem ir embora do Brasil. Não foram educados para exercitar a cidadania no próprio país em que nasceram. O Brasil. Acredita-se que na imigração reversa se encontrará uma sociedade sem problemas e esquece-se que a sociedade se forma através da relação do indivíduo com o conjunto de pessoas e suas necessidades com o grupo.

Existem as questões da vaidade humana insuperável, daqueles que ainda se apegam aos “brasões” que não se percebem exilados, que não admitem a brasilidade e assim por diante. A grande maioria não se envolve com a construção do Brasil que sustentou por 150 anos, com suas riquezas naturais e o trabalho dos imigrantes que aqui sobreviveram, querendo partir, como se fosse um acampamento temporário.

Tudo bem que o sucesso dos que venceram no Brasil, na Serra Gaúcha neste século e meio virou produto de marketing e turismo. Que seja usado sem culpa. Mas, talvez já esteja na hora de se ver o Brasil como um país íntegro por quem aqui vive. Em todas as partes. Pessoas de todas as nacionalidades que aqui se construíram e sobreviveram ou no mínimo tiveram alguma chance, pessoas que ainda precisam de reparação histórica, como descendentes de escravos e os povos originários e se trabalhar pela construção de um Brasil, sem necessidade de planos de fuga, ao que podemos chamar de dupla cidadania.

A principal guerra do Brasil é a omissão de sua população no exercício dinâmico dos deveres sociais, no diálogo e não inspirados pelo  fundamentalismo que só decide com radicalidade, exclusivismo e soberba. O desafio do Brasil é encontrar caminhos seguros  através do debate político de qualidade para uma nova sociedade. A possibilidade de dupla cidadania para os jovens então, muitos geniais, é altamente perniciosa, por que fugir da responsabilidade por mudança de endereço e nacionalidade não tornará melhores os cidadãos. É apenas uma síndrome de transferência.

Não me surpreende a postura dos italianos, os civilmente constituídos, os da Itália, que não muda e não mudará tão cedo na soberba. Lamento a postura dos exilados da Itália, na figura de seus descendentes, que no Brasil não querem admitir a possibilidade de aqui construir um grande país. Talvez esse orgulho tolo e o nacionalismo reverso de se amar mais um velho país que enganou os ancestrais com a imigração, sirva para que na Terra do Pau Brasil, se encontre com trabalho e vontade, felicidade.

Trabalho e dever para crescimento pessoal e público no exercício de uma saudável cidadania, com certeza não faltam.

Por Miguel Brambilla

Jornalista – MTB 10712

Profissional de Marketing

Escritor / Músico / Empresário

CEO de Sabe Caxias

Divulgação Sabe Caxias:

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