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Não consigo ser um relógio por Miguel Brambilla

Tenho 56 anos de idade e já vou dizer para o que essa informação importa. Me aproximo da terceira idade na velocidade atual do tempo. Deveria portanto sentir a experiência da vida agir sobre meu comportamento. Mas não sei se sinto, sinceramente essa “maturidade” chegando. Talvez um pouco mais de aceitação sobre a dinâmica do meu pensamento, o que não traduzo em conformismo.
Sou repórter, entrevistador. Tenho conversado com muitas pessoas e ouvido matérias sobre *TDH e estou me aprofundando no conceito de neurodivergência. Não sei se é isso.

Eu sei que e sinto todos os dias que não funciono como um relógio. Minhas horas são caóticas por dentro, mesmo que por fora não aparente. Estou fazendo grande esforço para manter a sociabilidade. As vezes gostaria de me isolar e ler sem parar, infinitamente. Porém, alguma ideia do texto ou que aparece na minha mente, me joga para outro universo da imaginação ou do pensamento e no mesmo instante, perco o interesse na leitura e suspiro no tédio. Então, preciso me movimentar. Tento a bicicleta ergométrica, um copo de água, uma volta pela sala, uso a vontade, o senso de responsabilidade, volto para a leitura. Mas não tenho mais tempo. Preciso pensar em criar, fazer funcionar a máquina do meu trabalho. Sobreviver.

Tenho a impressão que as pessoas são mais determinadas. Até realizo coisas. Mas, já tive a mesma sensação de fuga, em meio há um show de música, quando eu era o cantor; em uma palestra, quando preciso fechar os olhos para não perder o fio da meada, apresentando meu programa, escrevendo. Agora mesmo, penso que estou até produzindo nesta manhã. Mas esqueci de ir ao dentista, estou de pantufas, devia estar colocando notícias no site, fazendo os anúncios dos clientes, preparando a rádio, mas estou aqui, 11 horas e 22 minutos, escrevendo este texto, para tentar me concentrar melhor, me aliviar. Então prometo para mim, depois de um pouco de café, que agora vai e tudo vira recomeço, tudo que já fiz se desfaz e sigo descolado da realidade, impossibilitado de planejar qualquer coisa há longo prazo, já que os minutos são fugidíos.

É um tipo de sofrimento? É. Muitas pessoas não entendem e acham que eu desperdiço minha inteligência, por que não ganho tanto dinheiro quanto poderia, ou “deveria” ganhar, pelas necessidades das pressões sociais. Felizmente tenho fé. Assim como preciso perdoá-las, por que não ocupam a minha mente, também preciso do perdão das pessoas por ser assim, ou não ser assim, como um…relógio.

E agora? Bem, já enviei a ordem para o corpo levantar da cadeira, ser prático, trocar a roupa e pegar o carro para buscar a Júlia na escola. Porém, tenho mais um minuto, mais um, mais um… Estou de pantufa, meia, abrigo, desconfortável e com a barba branca e longa. Não posso deixá-la esperando. Mapeando rota, trocando de roupa, calculando porta, escada, carro, o que vou ouvir, roteiro… Já estou cansado usando esta energia extra. Sinal emitido. Ainda estou aqui. Nem me mexi. Tenho mais três minutos. Mais um gole de café, mais uma palavra…Está calor, 23 graus. Não sei por que estou ainda de abrigo. A Júlia, escola, carro, empresa… em alguns momentos as ideias se acumulam no funil de saída. Assim é minha mente. Parece que o sinal da rota foi descriptografado na central da vontade, só mais trinta segundos. Estou me levantando. Salvar o texto. Publicar depois. Pegar a Júlia. E depois? Pode ser qualquer coisa pois, não tem repouso…preciso constantemente me movimentar…como um relógio.

TDH é a abreviação para “Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade” (TDAH). É um transtorno neurobiológico que afeta a capacidade de atenção, impulsividade e hiperatividade.

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