Preencha os campos abaixo para submeter seu pedido de música:
Acabo de ver lindas laranjas, carnes vermelhas maravilhosas, peixes e outros produtos que muitos brasileiros adorariam consumir e que já não estão sendo exportados por causa das mal fadadas taxas de 50% dos americanos, liderados por Donald Trump. Não ouvi até agora manifestações da oposição dos Estados Unidos sobre o método truculento do presidente americano.
Nem o presidente Lula, nem lideranças de esquerda ou mesmo de direita consideraram até agora a opção de tornar mais vigoroso e lucrativo e saudável para a população brasileira, o mercado consumidor interno brasileiro. Por que? O povo brasileiro não merecia a tal picanha? Fora o resto.
A própria classe média brasileira já vive estrangulada com a inflação dos alimentos e outras tarifas. Três litros de suco laranja no mercado brasileiro hoje custam cerca de R$ 30,00. Uma família com quatro pessoas consome isso em dois dias? O preço da carne ou do peixe nem se fala.
Houve um tempo que as nações importavam apenas o excedente de seus produtos, agradando primeiro o próprio povo. Hoje só se fala em equilíbrio da balança comercial. Não importa se o produto esta caro para os brasileiros, importa é quanto os empresários estão ganhando ou perdendo. Provavelmente repassem o custo dos produtos não exportados para compensar prejuízos enquanto procuram outros mercados, nunca fáceis, sacrificando sempre mais os brasileiros que observam a polarização política sem entender exatamente o que o “tarifaço” tem haver com as questões judiciais da família Bolsonaro.
Se o povo brasileiro comesse mais e melhor, laranja, feijão, peixe, carne, é certo que os reflexos na educação com boa política pública surgiriam, num processo virtuoso de maior produtividade de todos e um avanço na direção da erradicação real da pobreza. Reurbanização de favelas, inserção no mercado de trabalho, investimento na educação desde o ensino básico até o máximo possível no nível superior, menor evasão escolar em todas as áreas.
O brasileiro teria também mais força para viver menos da saúde pública estando melhor alimentado, teria mais nutrientes mentais para a sua já conhecida criatividade ser posta em prática e até mesmo a violência doméstica ou urbana iria reduzir de certa forma em vários sentidos. As mulheres melhor alimentadas teriam mais independência e coragem para enfrentar os desafios do dia a dia e alimentar os próprios filhos, sem depender de homens irresponsáveis ou violentos, ameaçadores.
Enfim….sobram argumentos. Mas não, o Brasil quer vender o que já é caro e raro para a maioria dos brasileiros, para cair nas contas dos produtores rurais, comerciais, industriais e manter a conta mal dividida da distribuição de renda nacional que só cresce. A conversa populista de taxar os “super ricos”, parece mais um jargão de marketing na direção de um discurso que não encontra eco na prática e na vida dos brasileiros reais, cotidianos, que não tem as vezes nem mesmo discernimento cognitivo devido a degradação geracional da educação, que não se perpetua de hoje no Brasil e passa por vários níveis.
Lula já não fala no discurso da pobreza. Fala em novos mercados. Repete o que as lideranças empresariais dizem, sem mesmo lembrar as angústias da fome que ficaram num passado distante. Ideólogos, economistas, sociólogos de esquerda, parecem sumidos hoje em dia, a procura de um novo discurso social.
A direita, normalmente colocada na posição da riqueza nacional, o que nem sempre é verdade, parece mais preocupada em ou tentar blindar o próprio líder bolsonarista e seu clâ em alguns casos, ou tentar o próprio voo, descolando-se ao máximo das idiossincráticas loucuras oriundas da chantagem nacional, das traições da pátria e dos vitimismos pós tentativa de golpe em que vivem os que estão a mercê de uma ação intervencionista de um líder estrangeiro, não menos estapafúrdio, que não deve se configurar.
Enquanto isso, aumenta o número de pessoas em situação de rua, de insegurança alimentar e outras problemas sociais, que se não fossem as igrejas sérias e as ONGs no Brasil, fazendo o papel que o Estado como um todo, em todas as suas instâncias não faz, seria muito pior.
Os catadores de lixo não vivem disso apenas para o crack ou outras drogas. Muitos catam lixo, para poder comer. Outros em condições de sub-emprego, sofrem no silêncio, subjugados pelo tráfico, pelas milícias e pelo estado, sem ter para onde correr, ou literalmente morrer de violência, negligência, inanição, ignorância, fome ou todas as alternativas anteriores.
No jogo de cachorro grande porém, o mercado interno nem é citado. Dane-se o povo brasileiro. Pague caro a comida nos mercados, iludido pela sociedade brasileira em geral, sem mesmo saber o que é “equilíbrio da balança comercial”, quando os rios do Amazonas não tem mais peixe, quando a carne só é de segunda, a energia é lenha catada, a água é próxima do esgoto e a casa é palafita. Quando a árvore frutífera cai do morro com a casa em cima e mata o bebê, a água do rio barrento expulsa no vale o pobre para mais longe da cidade que se reconstrói e a “caridade governamental”, não chega.
Com essa visão curvada que o Brasil tem em um território tão amplo e bonito, fértil e naturalmente rico, submisso ao seu próprio “complexo de vira-lata” de um povo sim acolhedor, mas sofrido, nem é possível pensar num Brasil para os brasileiros, por que o que se quer é lucro e poder, por todos os lados….esquerda, centro ou direita, do alto a baixo. Mas, a América para os américanos, resssucitada pelo novo “César”, por hora, dá certo, quem sabe até um grande e estrondoso naufrágio, enquanto o comércio mundial se reorganiza, não se pense que sem sentimentos de oportuna vingança.
E já que nem picanha, nem cloroquina, irão salvar a nação, cabe lembrar o poeta louco, mas não tão doido. *“A Amazônia é o jardim do quintal e o dólar deles paga o nosso mingau”.
*Raul Seixas – músico brasileiro, autor da música “Aluga-Se” (In memorian)