Sociedade derretida – por Miguel Brambilla

Fico pensando onde foram parar os verdadeiros filósofos. Aqueles capazes de operarem em si as experiências das contradições humanas, tentando encontrar no seu exercício lógicas mais profundas sobre o próprio sistema primordial ao qual estão inseridos, que é a própria existência do pensamento sobre a carne. 

Sem consciência, morre a carne, vira pó, mas é impressionante perceber que nas escolas populares, ainda hoje, pouco se aprofundam os mentores intelectuais nos escaninhos dos mistérios antigos sobre a origem espiritual da vida, que já são bem acessíveis, revelados, provados, mastigados, explicados.

O desinteresse da maioria das pessoas em pensar e a ânsia constante em se posicionar apenas socialmente, na era das vaidades, desautorizando a embalagem polida da forma, pela superficialidade dos conteúdos, é o que nos traz as constantes bancarrotas da história, em repetidos fracassos sociais, individuais e coletivos.

Onde está a luz dos verdadeiros pensadores e não somente dos amantes da retórica e da tergivesação?

Onde estão os desafiadores da mente semeados por Sócrates no distante passado grego?

O velho teatro morre no popularesco, na repetição nietzschiana da prisão intelectual do eterno e tedioso retorno de tudo.

Nada mais se cria com qualidade. O icônico pop da filosofia e da literatura nacional é o omisso Paulo Coelho que desfruta da sua riqueza na Suiça.

A porta estreita, parabolizada por Jesus, acenando para a continuidade da vida, não é refletida nem filosoficamente, nem sociologicamente no comportamento das coletividades, e ainda assim os ingratos esperneiam vivendo numa aposta ilusória que se repete, construindo reinos em areias movediças.

O tempo já não nos pertence.

Divulgação:

 

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